Parabéns Avô

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Não queria deixar passar o dia, para te dar os parabéns. Na verdade, bastou pensar que a seguir ao dia 25, chegava, inevitavelmente, o dia 26, para me lembrar dos teus anos. Como te digo sempre, vales por 1000 avôs. Tu sempre me ensinas tantas coisas. Aquelas tuas frases sábias repetem-se vezes e vezes, nos meus dias. Às vezes vêm ao final do dia, quando o sol começa a se pôr. Outras vezes, vêm do nada, sem eu ter que as procurar. Em todas elas tens aquele tom de voz. Admiro-te tanto, Vô. Sempre te admirei.

Quando a minha mãe levava-me à tua casa, quando eu era pequena, dava logo dois beijinhos a ti e outros dois à Vó. Quando almoçávamos juntos, ocupava o lugar da Vó e ficava eu ao teu lado. Quando terminávamos a refeição, tu contavas-me as tuas histórias, de quando começaste a trabalhar, de quando tomavas conta dos teus irmãos mais novos, de quando foste para a guerra, de como desapareceram miraculosamente os cravos que tinhas nas mãos que teimavam em deixá-las, às vezes, cheias de sangue… mas eram aquelas frases que punhas no meio das tuas histórias, que mais me acompanham, sabes? E tenho exactamente gravado o modo como as dizias, a ênfase que davas a certas palavras, sem querer. Não te preocupes, Vô, que hoje, mais do que nunca, as tuas palavras me acompanham. Eu sou hoje, como sempre fui, a tua Sarinha. Sabes, já não há ninguém como tu, hoje em dia. Por isso te admiro tanto. Pelos teus valores, pela tua coragem, pelo teu coração bom.

Oh, Vô… eu acredito. Juro-te que acredito. Que me ouves. Não posso, nem quero não acreditar! Os teus pequenos gestos… são tão grandes para mim, Vô. Eu sei que tu sabes. Que te amo muito! Que te amo tanto… E quando dizemos adeus, vou-te contar, Vô… que eu faço de propósito uma coisa… sempre que temos de dizer, “Xau! Até amanhã!”, eu logo a seguir sorriu para ti, só para olhares para mim com o olhar mais doce que eu conheço no mundo! Confesso.

Por isso, vou já ter contigo, só para me mostrares o teu pequeno quintalzinho. Vais-me mostrar os feijões, as couves, os tomates, e de certeza, um novo legume que vais ver se se dá bem com a terra. Vou comer uma sandes de mortadela de azeitona, que vais comprar só porque sabes que gosto. Prometo-te que faço gelado de bolacha e levo para ti! E prometo-te que não vai acontecer como o último, que não me correu tão bem como o costume. Foi sem querer. Desculpa. Não sei o que correu mal na receita. Devia ter posto mais açúcar. Ou batido melhor as natas. Eu só sei, porque comentaste com a avó que este último não estava tão bom como os outros, mas pediste-lhe muito para que ela não me dissesse, mas ela lá acabou por me contar e pedir, por sua vez, que não te dissesse nada. É o que faz gostarmos muito uns dos outros, não queremos magoar ninguém.

A vida ensina-nos muita coisa, mas há uma forma de ensinar pior do que todas as outras. Eu tomei a minha lição. Só espero e faço todos os dias por não a negligenciar.


Hoje e amanhã não precisam de ser dois dias tristes…

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